O que queres ser quando fores grande?
Para o Tiago...
- O que queres ser, quando fores grande?
Esta foi a pergunta que a minha avó me fez no meu primeiro dia de aulas. Eu não lhe soube responder porque só conseguia pensar nos livros novos, nos lápis e nas afias, na professora e nos novos colegas. Que mal tem não saber o que quero ser quando crescer? Eu nem sequer tinha começado as aulas nem visto o recreio… Então, como podia eu saber se queria ser astronauta, jogador de futebol ou outra coisa qualquer?
A escola estava caiada de branco e o telhado forrado de telhas cor de laranja. Havia umas escadas de pedra que nos conduziam para uma porta de madeira pintada de verde-escuro. Havia três janelas de cada lado da porta também elas pintadas de verde onde podia ver autocolantes coloridos colados nos vidros. Na frente, por cima da entrada, viam-se as letras que aprendi a ler mais tarde: Escola Primária.
À volta da escola havia árvores, arbustos e roseiras que enchiam o ar de cores luminosas e odores suaves. E lá dentro podia ver-se uma porta, que estava fechada, e outra que dava para a sala de aula. Que animação! Todos os alunos estavam numa roda a cantar e sem me dar conta, já estava a ser empurrado também para o meio da confusão. Havia tantas caras novas, tantos nomes que ouvia e esquecia logo a seguir, eram tantos meninos, que rapidamente me esqueci do que a minha avó me tinha perguntado minutos antes.
Passado algum tempo, a professora abriu a porta que estava fechada e apresentou-nos um mundo completamente novo. Chamava-se recreio e era o lugar onde as crianças podiam brincar juntas aos berlindes, ao pião, ao arco e à cabra-cega. Em casa da minha avó não havia assim tantos primos para brincar, por isso, foi uma experiência única.
O primeiro dia passou a voar e nessa noite mal consegui dormir a pensar como seria o dia seguinte.
As árvores dançavam ao sabor da brisa e, de vez em quando, um ou outro pássaro voava do seu ninho para um lugar qualquer. Mas a curiosidade pelo mundo da escola era maior que tudo. Logo nos primeiros dias, apercebi-me dos novos cheiros, dos novos espaços e das novas pessoas à minha volta. A curiosidade por tudo o que era novo fazia-me querer aprender mais e mais e, embora sendo uma criança muito tímida, levantar o braço e fazer uma pergunta tornou-se uma rotina do dia-a-dia na escola.
A escola era um lugar lindo e a sala de aula era um lugar encantador e mágico. O quadro preto e os paus de giz eram como uma janela enorme para onde olhávamos e aprendíamos coisas novas a cada dia. O globo terreste e os mapas antigos com algumas manchas pendurados nas paredes eram simplesmente fascinantes. Não fazia ideia que o meu país tinha tantos rios e montanhas, que o mundo era tão grande e colorido, nem que o corpo humano estava tão cheio de geringoças e nomes esquisitos! O mapa-mundo ou mapa-mundi, como dizia a professora, fazia a minha cabeça andar à roda só de pensar em tantos lugares que havia no mundo para se visitar. Só de pensar que nunca tinha saído de Portugal, fez-me sentir pequenino, mais pequeno que uma semente de girassol. Logo percebi que se quisesse conhecer o mundo tinha de começar a viajar o quanto antes.
- Hora do recreio. – disse a professora.
Aqueles dias de final de Verão foram muito felizes. A cada dia que passava aprendia novas coisas, viajava pelos livros de história, estudo do meio e, claro, nos mapas antigos pendurados na parede. Havia tantos países para visitar, tantas cidades para ver, tantas montanhas e tantos rios para decorar… Mas claro que, quando se é criança, o recreio é o mundo mais divertido que conhecemos. Então porquê tanta pressa de conhecer outros recreios no resto do mundo? Devagar se vai ao longe, já dizia a minha avó. Então, sem grandes pressas, fui aprendendo de tudo um pouco na escola primária.
- O que queres ser quando fores grande? – disse alguém da família quando estávamos todos juntos.
Não foi preciso pensar muito para saber o que realmente queria.
- Quando for grande quero ser feliz! – respondi eu, a pensar no recreio.
Toda a gente olhou para mim com cara de espanto. Ninguém tem culpa da cara que tem, mas que culpa tenho eu de querer ser feliz quando crescer? Ora essa!
- Mas para ser feliz, tens de ter um bom emprego. Com um bom emprego podes ter uma boa casa, casar, ter filhos e então sim, podes ser feliz! – Disse-me um tio ao fundo.
- Mas não posso ser feliz agora?, pensei eu em voz baixinha.
- Podias ser doutor e tratar de muitos doentes. – disse o meu avô.
- Ou então advogado para saberes todas as leis. – disse uma tia minha.
- E que tal engenheiro para fazeres de tudo um pouco? – disse um outro tio que por acaso queria construir uma casa.
- E brincar, e rir, e ter aventuras e… e ser feliz?, pensei eu numa voz que eu já mal ouvia.
- Os adultos sabem sempre o que dizem. – rematou alguém que já não me lembro.
E fui pensar para casa naquela coisa difícil de entender.
Depois de lavar os dentes e vestir o pijama, decidi olhar para o livro da escola para ver se descobria que emprego me poderia fazer feliz. Levei-o para a cama e fui para debaixo dos lençois. Não foi preciso muito tempo para ver o bonito mapa do mundo que estava mesmo à minha frente. Era tal e qual como o grande mapa que estava pendurado na parede da escola, cheio de cores e nomes esquisitos. Pus-me a observá-lo até adormecer de cansaço e de sonhos.
Era Outono, e sei isso porque as árvores dos jardins lá iam deixando cair lentamente uma ou outra folha dos seus ramos. As primeiras chuvas deixavam no ar o cheiro a terra molhada como se fosse o cheiro de chocolate quente a entrar dentro de mim a cada inspiração. Era nesta altura que as folhas se tornavam coloridas e que se comiam castanhas assadas. Naquela altura parecia não haver dias mais simples. E também não havia necessidade de pensar no que queria fazer quando fosse grande. Comer castanhas, brincar no recreio e ser feliz parecia a resposta mais correcta e verdadeira de todas.
O Inverno foi chegando sem timidez. Primeiro o frio, depois as chuvas, depois o vento até que os três se juntaram para enregelar quem andasse na rua. As árvores estavam já quase totalmente despidas e apenas se viam os ramos a estremecer de frio. Quando não havia escola, ficava em casa a desenhar, enquanto ouvia a chuva a bater nos telhados e nos vidros das janelas. Sabia bem estar dentro de casa no quentinho, a desenhar mundos que existiam na minha cabeça. Talvez alguns desses mundos existissem também lá fora, num desses países com nomes esquisitos como os que estavam desenhados no mapa mundi da escola.
Devagar, devagarinho, a Primavera foi chegando, enchendo os jardins de flores. Os pássaros regressavam do sul, os animais saíam das tocas e as abelhas voavam entre jardins e colmeias. Na escola fazíamos desenhos sobre a Primavera e eu fazia questão de não repetir a mesma cor nas flores, porque esta estação do ano era mesmo assim, colorida e cheia de surpresas. O recreio da escola voltava a ser o mundo da brincadeira e dentro da sala continuava a aprendizagem sobre todas as coisas da vida. Nas aulas, as matérias começavam a ser mais complicadas mas, ao mesmo tempo, mais divertidas. Falamos de reis e descobridores de tempos antigos e nada aborrecidos.
O Verão começava a dar sinal de si quando o sol teimava em ficar mais tempo. Foi enquanto o sol aquecia lentamente os dias, que o final da escola se aproximou. Faltavam poucos dias para não haver mais aulas, quando o calor começou a aparecer. Férias! O maior recreio de todos. É certo que iam faltar os amigos, mas havia sempre o irmão e os primos todos para fazer brincadeiras o tempo todo. Dei um olhar final ao mapa mundi pendurado na parede e disse um ‘até já’ baixinho. E foi assim que entrei nas férias de Verão.
- Então, já sabes o que queres ser quando cresceres? – atirou a minha avó logo no início das férias.
- Sim, sei. Quero ser feliz. Quero andar de bicicleta, brincar com o Bochechas, o meu cão, apanhar trevos da sorte, brincar aos piratas, descobrir insetos novos e mostrá-los à minha mãe cheio de orgulho, fazer desenhos, fazer corridas com o meu irmão, brincar com os meus amigos, trepar as árvores do meu jardim, comer frutos acabados de apanhar, tomar banhos de mangueira, comer gelados caseiros, apanhar pirilampos, contar as estrelas, fazer asneiras, tentar andar de skate, nadar no mar e fazer castelos de areia na praia, ler banda desenhada, tentar fazer banda desenhada, comer gemadas com muito açúcar, jogar à bola, apanhar flores com o pai no dia da Mãe, ver os mesmos filmes vezes sem conta, andar de patins sem joelheiras, acordar cedo só para ver desenhos animados… Enfim, quero fazer isto tudo, de preferência acompanhado pelos meus pais e pelo meu irmão. Não sabia que estar de férias significava ter de pensar como os adultos.
- Então, já sabes o que queres ser quando cresceres? Não podes passar a vida a sonhar em ser feliz. – repetiu alguém aborrecido. Fiz de conta que não ouvi e fui jogar à bola.
Nessa noite fechei os olhos e pus-me a ouvir os grilos lá fora. Nunca tive medo do escuro, mas acho que só não tinha medo porque conhecia cada canto da minha casa como a palma da minha mão. O escuro no resto do mundo deve ser bem mais assustador. Sempre demorei muito tempo a adormecer. Acho que é por pensar demasiado nestas coisas que me aguçam a curiosidade. Como será o deserto do Egipto? E as casas no Japão são feitas de tijolos ou de papel? E o cheiro a terra molhada do Perú? As flores da Índia têm mais cores que as de Portugal? E lentamente deixei-me levar pela brisa que soprava pela janela entreaberta do meu quarto escuro. Suavemente, fui elevado pelo ar meio a sonhar meio desperto e, de braços abertos, comecei a voar para fora do meu quarto e do meu universo.
A noite estava quente e muito ilumidada pelas estrelas que brilhavam no céu. Os grilos iam fazendo cada vez menos barulho à medida que me ia aproximando das nuvens. Lá em baixo cintilavam algumas luzes das casas, dos carros, dos candeeiros de rua. Parecia que o mundo tinha adormecido de tão calmo que estava sob o manto quente da escuridão.
Quando comecei a ficar cansado, decidi parar para descansar um pouco. Deixei-me cair num areal enorme e olhei à volta, procurando alguém com o olhar. Era impossível não ver as três pirâmides enormes que se erguiam à minha frente.
- Para que servem? – pensei eu para mim mesmo.
No meio de tanto silêncio, foi com facilidade que ouvi alguém perto das pirâmides. Fui caminhando pela areia até encontrar a voz.
- Boa noite! O que está a fazer? – perguntei eu a um homem que parecia muito atarefado.
- Boa noite rapaz. Eu estou a fazer pirâmides, não vês? – respondeu ele despachado.
- Para que servem?
- Para que servem? Para ficarem bonitas neste areal, ora essa. Para ficarem na História. Um mundo sem História nem coisas bonitas não merece ser visitado, não achas? – disse ele cheio de convicção.
- Acho que sim… Construiu-as sozinho?
- Desenhei as pirâmides, fiz muitos cálculos e construí-as sozinho. Sou arquiteto, engenheiro, construtor e pedreiro. – disse o homem orgulhosamente.
- Ser tanta coisa parece ser complicado. – disse eu muito honestamente.
- É como ser baixo, magro, curioso e sincero ao mesmo tempo. E se queres saber, gosto muito do que faço. Quando acabar as pirâmides, sei que vão ficar lindas neste areal e que vão durar muitos e muitos anos. E espero que pessoas de todo o mundo venham ver as pirâmides do meu país.
- Pode dizer a toda a gente que eu fui o primeiro a ver as suas pirâmides. - disse eu orgulhoso por ser o primeiro. - Bem, agora vou andando. Quero muito ver mais maravilhas como a sua.
- Boa viagem, rapaz.
Continuei a minha viagem pelo céu fora a pensar no homem das pirâmides. Parecia feliz com o resultado do seu trabalho. Não deve ter sido fácil fazê-las. Tenho a certeza que teve de estudar imenso na escola, mas valeu a pena o esforço.
Pouco tempo depois, quando o ar começou a arrefecer, decidi descer para me aquecer um pouco. Quando senti o chão nos meus pés, olhei à minha volta e vi-me rodeado dos animais e das flores mais coloridas que já tinha visto. Ali, no meio de vacas, ovelhas e gatos sentia-me mais quentinho.
- Quem és tu? – perguntou uma voz feminina.
- Eu sou...
- Não importa, preciso da tua ajuda – disse a dona da voz. Era uma senhora que usava um vestido amarelo até aos pés e tinha uma pinta colorida muito engraçada na testa. Tinha presa no cabelo uma flôr cor de rosa que lhe ficava muito bem.
A senhora estava à beira de uma vaca que mugia, mugia, mugia.
- O que é que ela tem? – perguntei eu preocupado.
- Tem um milagre dentro dela. – disse a senhora a sorrir com os dentes brancos.
- Um milagre? O que é isso?
- Já vais ver. Faz-lhe festas na cabeça para se acalmar. Vá, não tenhas medo.
Enquanto eu fazia festas, o animal ia-se acalmando e, para o ajudar a relaxar, comecei a cantar-lhe baixinho ao ouvido. Passado pouco tempo, o milagre aconteceu! Uma vaca pequenina nasceu do corpo da vaca maior. Do nada, mãe e filho e um pouco de magia apareceu diante de mim.
- És mágica? – perguntei eu à senhora que que riu muito.
- Não, sou veterinária, mas também me podes chamar milagreira, se quiseres. – disse sorrindo. – Trabalhar junto de animais pode ser um dos melhores trabalhos do mundo. Vemos milagres todos os dias e o coração dos animais pode surpreender-nos mesmo quando não estamos à espera. Olha agora a mãe a proteger o filho.
Nesse momento, a vaca lambia e envolvia a cria como se já tivesse sido mãe o resto da vida, como se soubesse sem ser ensinada. Fiquei em silêncio durante uns minutos deslumbrado com aquela cena. Decidi deixar a mulher a tratar dos seus animais e, levando uma flor comigo, voltei aos céus para descobrir mais milagres.
Nas nuvens, o ar é mais limpo. Quando se vive lá em baixo não nos apercebemos que o ar nos dá vida e que protegê-lo é o mesmo que proteger a nossa vida e também a de quem nós gostamos. Foi preciso sentir a pureza daquele ar para que me desse conta que se não houvesse lixo lá em baixo, o ar seria certamente mais limpo e saudável. Decidi, nesse momento, descer à terra e apanhar todo o lixo que encontrasse.
Quando os meus pés tocaram no chão, olhei à minha volta. Estava num jardim muito lindo repleto de cerejeiras em flor que cobriam as árvores da côr lilás. No meio do jardim havia um lago cheio de nenúfares onde vários animais faziam ruídos engraçados. Enquanto estava a admirar este cenário, o ar encheu-se de música vindo do outro lado do jardim. Fui ver de onde vinha.
- Que lindo! – disse eu ao chegar perto de uma senhora de olhos em bico e cabelo muito escuro que tocava flauta lindamente. – O que é?
- Isto é música.
- O que é a música? – perguntei eu, curioso.
- A música é a linguagem universal dos sentimentos. Quando cantamos ou tocamos um instrumento, estamos a transmitir às pessoas o nosso estado de tristeza ou de felicidade.
- E tu estás triste ou feliz?
- Depende, mas mesmo que seja uma música triste, quando toco a minha flauta, sinto-me logo feliz. És um rapaz muito curioso, não és? O que te faz feliz?
- Hmm, há muita coisa que me faz feliz, mas acho que gosto mais de viajar, aprender novas coisas, conhecer novas pessoas. E agora gosto também de ouvir música.
- Então esta música que vou tocar é para ti.- disse a senhora de olhos em bico sorrindo.
A música subiu aos céus e, antes de eu subir com ela, despedi-me da senhora oferecendo-lhe a flor que trazia na mão. O jardim de cerejeiras em flôr foi ficando mais pequenino enquanto eu ia em busca da música nas estrelas.
Lá do alto não via luzes em baixo. Então pensei no mapa mundi da escola e lembrei-me que o nosso planeta tem mais água do que terra e que, provavelmente, a falta de luzes queria dizer que estava em cima de um oceano.
- Se for sempre em frente hei-de voltar a encontrar terra. - pensei eu com os meus botões.
E, de facto, passado algum tempo e depois de ver um bando de pássaros a passar ao meu lado, voltei a ver luzes no meio do escuro. Como estava um pouco cansado, decidi pousar ao lado da luz que estava mais perto de mim.
Em cima de uma grande pedra estava um homem com penas coloridas na cabeça a olhar para o ceú enquanto bebia qualquer coisa de uma caneca.
- Boa noite. – disse eu, aproximando-me.
- Ahh, assustaste-me. - disse o homem, recompondo-se rapidamente. Estava distraído a ver as estrelas enquanto bebia o seu chocolate quente. - Fazes-me companhia?
- Claro! – disse eu alegremente. Depois de tanto viajar, era a primeira vez que alguém me oferecia alguma coisa para beber.
O céu estava repleto de estrelas e, por momentos, não dissemos nada um ao outro. Ficamos algum tempo a observar as estrelas e a beber chocolate quente, até que eu lhe perguntei:
- O que vês nas estrelas para estares tanto tempo a olhar para elas?
- Vejo a beleza do universo, percebo como somos pequeninos e quão delicioso pode ser um simples chocolate quente no meio de um universo sem fim. A simplicidade das coisas faz-me sentir feliz.
- Quando crescer quero ser feliz. – disse eu prontamente.
- Então lembra-te que a felicidade está em coisas simples da vida, como o chocolate ou como os pontos luminosos do céu.
- Não me vou esquecer. Mas agora tenho de continuar a minha viagem. Obrigado pelo chocolate e adeus. – disse eu enquanto me despedia. Sentia-me mais quente e com energias para continuar esta viagem.
Continuei a viagem enquanto pensava em todas as amizades criadas nos lugares mágicos que havia visitado. Tinha o mapa mundi decorado na memória e, além de saber os nomes dos países, capitais, rios e montanhas, tinha também todos esses lugares gravados no coração.
Estava a pensar nestas coisas quando, de repente, me dei conta que estava perdido. Afinal ainda tinha de estudar melhor o mapa da escola primária. Decidi descer e perguntar a alguém.
- Olá! Desculpa, podias-me dizer onde estamos? – perguntei eu a um rapaz da minha idade que estava a desenhar numa folha de papel debaixo de um candeeiro de rua.
- Ah, olá! Eu não sei o nome deste lugar, mas é muito bonito, não é?
- Hmm, sim, é muito bonito, mas continuo sem saber onde estou. É que estou cansado e queria regressar a casa.
- A minha mãe sempre disse que Casa é onde nos sentimos bem. Onde é que te sentes bem?
- Eu sinto-me bem em minha casa, com a minha família e o meu cão. Por isso é que quero ir para lá.
- Se sabes o que queres, então só tens de caminhar nessa direção. E assim, vais poder encontrar a tua casa e ser feliz.
Nesse momento, a lua espreitou lá de cima iluminando o espaço à nossa volta. Um edifício branco com telhas cor de laranja apareceu à minha frente. Reconheci as escadas de pedra que davam para uma porta em madeira pintada de verde-escuro, com três janellas de cada lado. Sobre a porta viam-se as letras que aprendi a ler: Escola Primária.
Fui a correr para casa, feliz por ter encontrado o caminho de regresso e por ter uma aventura para contar aos meus pais. Quando cheguei, o Bochechas veio ter comigo todo contente, mas ainda era de noite e estava toda a gente a dormir. Decidi ir para o meu quarto, guardar o livro com o mapa igual ao da escola e ir direitinho para a cama para dormir e, quem sabe, sonhar sobre maravilhas, milagres, música e chocolate quente.
O sol entrou pela janela do meu quarto e fez-me acordar dos sonhos que estava a ter. Os pássaros cantavam felizes lá fora enquanto as árvores e flores do jardim dançavam com o vento fresco da manhã. Passado pouco tempo, os meus pais chamavam-me para o pequeno-almoço. Vesti-me num segundo e desci a escadas a correr, como sempre fiz e, sem dizer bom dia, disse para os meus pais:
- Mãe! Pai! Já sei o que quero ser quando for grande.
- Ai sim? Então diz lá o que queres ser quando fores grande? - responderam-me eles com um sorriso no rosto.
- Quero ser arquitecto, engenheiro, construtor, pedreiro, veterinário, milagreiro, chocolateiro, astrólogo, músico, geógrafo… - disse eu entusiasmado. – Também quero viajar muito e aprender novas coisas, brincar sempre que tiver tempo e e…
-Calma, calma. Tens tempo para saberes o que queres ser. Hoje está um dia tão bonito, devias ir lá para fora e brincar. E sabes uma coisa? O mais importante na vida é ter saúde e ser feliz. – disseram-me os meus pais.
- Sim, foi isso que eu disse. Quando for grande quero ser feliz!
Este texto foi feito para o prémio de literatura/ilustração infantil do Pingo Doce. Infelizmente não ganhei mas ainda falta a parte de ilustração, por isso ainda há experança :). Entretanto muitos parabéns à vencedora Joana Lopes com o texto 'De onde vêm as bruxas?'. Quanto ao meu texto, ainda não foi desta Tiago, mas um dia há-de ser...